Justiça deverá interceder na postura do Sinjor PA em não realizar eleição
Por Annanda Barbosa
Em pleno século XXI, uma das mais longevas entidades do Pará, com 70 anos de história, o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará, o Sinjor Pa, que já teve seus tempos de glória e importância, vive atualmente um período de ostracismo e quase anonimato, estando, inclusive, às portas da extinção. Vítima da indiferença e limitação de suas últimas diretorias, a entidade sindical é representada hoje por uma diretoria esfacelada, sem identidade e totalmente apática.
A presidente eleita em 2017, Sheila Faro, que já havia presidido a entidade anteriormente, sem nada a acrescentar para a classe, tão logo assumiu o lugar antes ocupado pela jornalista Roberta Vilanova, tratou de se licenciar para assumir um cargo no governo do Pará. Sobrou para o vice, Felipe Gillet assumir uma função meramente decorativa.
Como se isso não fosse bastante, parte do grupo eleito com Sheila Faro rompeu com a diretoria do Sinjor, passando a fazer oposição nas redes sociais. Não é exagero acrescentar que, nos anos em que o grupo de Sheila Faro esteve à frente do Sinjor a entidade mergulhou em profundo descrédito junto a categoria, engrossando o coro dos descontentes, face a falta de transparência e a aversão em lutar pelo fortalecimento da categoria.
Hoje, o cenário do Sinjor Pa é o pior possível. E a coisa só piora. A entidade não tem sede própria (a que existia foi vendida em uma negociata até hoje não esclarecida), dos quase mil filiados menos de 200 pagam as mensalidades. A inadimplência, por si só, é prova da inoperância das últimas administrações do Sinjor. Sem contrapartida nenhuma, centenas de filiados que contribuíam religiosamente preferiram se afastar.
Até mesmo o site do Sinjor, que deveria ser um elo de comunicação entre a diretoria e os sindicalizados, está desativado há anos. O único meio de informação, não por acaso gratuito, que ainda dispõe o Sinjor, é o bom e velho Facebook. Triste realidade de uma classe dita como o Quarto Poder.
Agora, com o fim do mandato às portas, em 22 de agosto próximo, estranhamente, a atual diretoria, que se resume ao presidente em exercício, Felipe Gilett, e a dois ou três diretores, se insurge contra o processo eleitoral para eleger a nova diretoria.
Na noite de ontem, 04 de agosto, depois de muita pressão, o que deveria ser a Assembleia Geral para instaurar o processo eleitoral se encerrou antes mesmo do início. Uma confusão de vozes e ruídos não permitiu a realização da assembleia. O bom e velho Facebook, gratuito, foi a ferramenta escolhida pela diretoria para a reunião virtual. O resultado não poderia ser diferente. Depois de muita confusão, os membros concordaram em remarcar a reunião.
Embora muitos acreditem que a escolha da plataforma tenha sido uma possível manobra para não eleger a comissão eleitoral e assim procrastinar a eleição da nova diretoria, é mais plausível creditar o ocorrido a desleixo e descuido, por evidente desconhecimento, uma vez que as reuniões virtuais são ferramentas obrigatórias em tempos de pandemia, sendo pouco crível que integrantes de uma diretoria de um sindicato tão importante, como o dos jornalistas, desconheçam plataformas eficazes para realizar reuniões. Casa de ferreiro, espeto de pau.
Prorrogação de mandato
O absurdo não se limita apenas a situação financeira do Sinjor. No dia 24 de abril, no auge da pandemia em Belém, durante a primeira assembleia que, a rigor, seria para eleger a comissão eleitoral, o presidente em exercício, Felipe Gillet, colocou em pauta uma verdadeira aberração, sem precedentes na história do sindicato: a prorrogação do mandato, pelo período de um ano, por conta dos efeitos da Covid -19. Diga-se de passagem, que a proposta foi referendada pelo assessor jurídico da entidade, Daniel Cruz.
Aprovada pelos 15 presentes, a tal prorrogação só não foi adiante porque um grupo fez constar na ata que o mandato só deveria se estender até o período crítico da pandemia no Pará. A referida assembleia, além de beneficiar diretamente a atual diretoria, vai na contramão do Regimento da entidade, sendo que a eleição tem data especifica definida e só a alteração no estatuto, por maioria absoluta, poderia decidir sobre tema de tal importância.
Além disso, conforme certidão emitida pelo cartório Vale Chermont, a ata da tal assembleia nunca foi registrada, o que torna nulo os efeitos da mesma. A proposta da diretoria do Sinjor, de eliminar o processo eleitoral, além de surgir como uma inovação de consequências irreversíveis, remontaria ações típicas dos regimes militares, consolidando o primeiro mandato eletivo prorrogado por conta da pandemia.
Além de inúmeras associações e entidades, os sindicatos de jornalistas do país, apesar das limitações impostas pela Covid 19, não feriram a democracia e realizaram suas eleições virtualmente. Seria um ato sindical de fazer inveja ao general Pinochet e de fazer o grande Rui Barbosa se revirar no túmulo.
Diante de tantos impasses e nenhuma certeza, é quase certo que a questão da eleição do Sinjor seja judicializada. Isso para garantir o processo democrático, assegurado pela Constituição Federal, mas que, por razões inconfessáveis, está sendo ignorado e afrontado, ironicamente, por um sindicato de jornalistas.
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